As coisas são piores do que pensamos.
Outro dia estava assistindo uma formação para professores onde, entre outras coisas, foi apresentada a chamada curva de esquecimento de Ebbinghaus. Sem entrar muito em detalhes, foi explicado que esta curva representa o quanto conseguimos reter de uma informação com o passar do tempo.
Um dos resultados desta curva é que, sem revisões, conseguimos conservar cerca de 3% da informação após o período de um mês. Até aí tudo bem, não é sobre isto que quero falar.
O que me surpreendeu foi um dos comentários do chat da apresentação, no qual um professor considerou o estudo controverso por um simples motivo. Ele lembrava de tudo que tinha aprendido na escola a 40 anos atrás, pelo menos do que ele tinha aprendido mesmo…
Vamos ignorar o uso da palavra controverso, uma opinião em contrário não torna algo controverso, por que se assim fosse todos os assuntos no mundo seriam controversos e, por definição, o consenso seria ficção científica (Ok, concordo com que percebeu que eu não ignorei nada).
Mas o que me assombra é o nobre professor, responsável pela educação de nossos jovens para o futuro, não saber que a opinião dele não tem o menor peso científico. E que a pesquisa científica serve justamente para irmos além dos achismos pessoais.
É tão cheia de furos lógicos o tal comentário que é difícil até saber como contra-argumentar. No jargão das conversas de físicos nós diríamos que ele não entendeu o suficiente nem para estar errado.
Primeiro a definição de “aprendido mesmo” é falha, e traz em si o argumento que se quer provar. É uma definição circular:
-O que você aprendeu mesmo?
-O que eu nunca esqueci.
-E por que você nunca esqueceu?
-Por que aprendi mesmo.
É uma falsa dicotomia, ignora o fato que você pode ter "aprendido mesmo" certas coisas e as ter esquecido, o que é uma possibilidade a ser considerada. Para termos certeza devemos considerar a aferição do aprendizado de maneira operacional: faz-se um teste e se verifica o aprendizado, deixe passar um tempo e faça novamente o teste. Se houver falha no segundo teste não significa que o aprendizado não ocorreu e que o primeiro teste falhou (pelo menos não necessariamente), pode significar que o indivíduo esqueceu.
Claro que para termos uma visão profunda do problema devemos olhar o teste aplicado, verificar a sua eficiência, saber se ele cobra a compreensão ou apenas memorização, se ele não pode ser resolvido por sorte e outros. Realizar um estudo científico é difícil, requer cuidado aos detalhes, e em um caso como este requer grande quantidade de indivíduos sendo estudados, para que pequenas características individuais sejam diluídas na coletividade impessoal da pesquisa.
O que me preocupa, e que motivou a escrever este texto, foi o total desconhecimento do professor do processo científico básico, de que opinião não é evidência científica (a não ser que o objeto da pesquisa seja as opiniões) e, principalmente, fazer ciência é um processo meticuloso e cuidadoso.
E o que me preocupa, no fundo, é que este professor está em sala de aula ensinando nossos jovens...
Outro dia estava assistindo uma formação para professores onde, entre outras coisas, foi apresentada a chamada curva de esquecimento de Ebbinghaus. Sem entrar muito em detalhes, foi explicado que esta curva representa o quanto conseguimos reter de uma informação com o passar do tempo.
Um dos resultados desta curva é que, sem revisões, conseguimos conservar cerca de 3% da informação após o período de um mês. Até aí tudo bem, não é sobre isto que quero falar.
O que me surpreendeu foi um dos comentários do chat da apresentação, no qual um professor considerou o estudo controverso por um simples motivo. Ele lembrava de tudo que tinha aprendido na escola a 40 anos atrás, pelo menos do que ele tinha aprendido mesmo…
Vamos ignorar o uso da palavra controverso, uma opinião em contrário não torna algo controverso, por que se assim fosse todos os assuntos no mundo seriam controversos e, por definição, o consenso seria ficção científica (Ok, concordo com que percebeu que eu não ignorei nada).
Mas o que me assombra é o nobre professor, responsável pela educação de nossos jovens para o futuro, não saber que a opinião dele não tem o menor peso científico. E que a pesquisa científica serve justamente para irmos além dos achismos pessoais.
É tão cheia de furos lógicos o tal comentário que é difícil até saber como contra-argumentar. No jargão das conversas de físicos nós diríamos que ele não entendeu o suficiente nem para estar errado.
Primeiro a definição de “aprendido mesmo” é falha, e traz em si o argumento que se quer provar. É uma definição circular:
-O que você aprendeu mesmo?
-O que eu nunca esqueci.
-E por que você nunca esqueceu?
-Por que aprendi mesmo.
É uma falsa dicotomia, ignora o fato que você pode ter "aprendido mesmo" certas coisas e as ter esquecido, o que é uma possibilidade a ser considerada. Para termos certeza devemos considerar a aferição do aprendizado de maneira operacional: faz-se um teste e se verifica o aprendizado, deixe passar um tempo e faça novamente o teste. Se houver falha no segundo teste não significa que o aprendizado não ocorreu e que o primeiro teste falhou (pelo menos não necessariamente), pode significar que o indivíduo esqueceu.
Claro que para termos uma visão profunda do problema devemos olhar o teste aplicado, verificar a sua eficiência, saber se ele cobra a compreensão ou apenas memorização, se ele não pode ser resolvido por sorte e outros. Realizar um estudo científico é difícil, requer cuidado aos detalhes, e em um caso como este requer grande quantidade de indivíduos sendo estudados, para que pequenas características individuais sejam diluídas na coletividade impessoal da pesquisa.
O que me preocupa, e que motivou a escrever este texto, foi o total desconhecimento do professor do processo científico básico, de que opinião não é evidência científica (a não ser que o objeto da pesquisa seja as opiniões) e, principalmente, fazer ciência é um processo meticuloso e cuidadoso.
E o que me preocupa, no fundo, é que este professor está em sala de aula ensinando nossos jovens...
Bjs nas crianças