quinta-feira, 5 de abril de 2012

Trabalhos escolares e bom senso: vamos reatar esta amizade? (Parte 1)


Olá pessoas.

O ano passado eu fiz uma postagem explicando a forma certa de se fazer uma resenha, para lê-la clique aqui. Na época achei que era necessário porque a maioria dos meus alunos não fazia a menor idéia do que fosse isto. Confundiam com resumos ou com sei lá o que.

Desta vez resolvi fazer um post explicando como se faz um trabalho de pesquisa qualquer. Por que isto? Simples. As pessoas também não sabem fazer um trabalho de pesquisa.

Antes de mais nada quero dizer que grande parte deste desconhecimento é culpa dos professores e não dos alunos. Se alguém chega ao ensino médio sem saber como se faz um trabalho de pesquisa, é porque isto nunca lhe foi explicado (nem exigido).

Por outro lado, não vou elaborar uma mega lista de regras que devem ser seguidas a qualquer custo, o que vou expor é um pequeno conjunto de regras baseado apenas no bom senso. Tudo que vou escrever aqui deveria ser óbvio, para alunos e professores, mas a experiência mostra que não é.

1- Para que serve um trabalho de pesquisa?

A maioria dos alunos acredita, ou foi levada a acreditar, que um trabalho de pesquisa tem como objetivo final melhorar a nota. Não é verdade. Quando um professor (leia-se: um professor sério) propõe um trabalho, ele espera que você aprenda alguma coisa durante o processo. Às vezes o trabalho serve para trabalhar um conteúdo que não foi possível trabalhar em sala, outras vezes para aprofundar um conteúdo já trabalhado, pode ainda servir como uma revisão da matéria.

Em qualquer um dos casos o objetivo é que você aprenda alguma coisa sobre o assunto. Talvez esta idéia seja tão inovadora que você que tenha dificuldade de entendê-la, então vou repetir:

O TRABALHO SERVE PARA QUE VOCÊ APRENDA ALGO SOBRE O TEMA DA PESQUISA!

Qualquer procedimento que impeça, ou demonstre, que você não aprendeu nada inutiliza automaticamente o trabalho. Era melhor não ter feito, teria poupado seu tempo e o tempo do professor.

2- Não faça cópias.

O cérebro humano tem a fantástica capacidade de copiar exatamente o que está escrito em um texto sem que seja necessário qualquer entendimento a respeito do mesmo. Pode experimentar.
Alguns anos atrás, em uma pesquisa sobre a natureza da luz, realizada no wikipédia (falarei dele mais tarde) obtive a seguinte resposta sobre o conceito de fóton:

Fóton é o bóson mediador da força eletrofraca.

Antes de continuar experimente pegar um pedaço de papel e escrever exatamente a frase acima.

Fácil não?

Mas ficam as perguntas: O que é um bóson? O que é mediador? O que é a força eletrofraca? Se você não sabe então você não conseguiu aprender nada ao escrever esta frase em um papel. É um trabalho inútil, pois:

O TRABALHO SERVE PARA QUE VOCÊ APRENDA ALGO SOBRE O TEMA DA PESQUISA!

Mas isto era antigamente, quando as pessoas ainda se davam ao trabalho de ler o que estavam escrevendo (pelo menos). Hoje em dia as pessoas encontram uma página na internet, imprimem, colocam o nome à caneta em algum espaço em branco e entregam! Isto NÃO FAZ SENTIDO!

O aluno esta gastando tempo, dinheiro, prejudicando a natureza com o consumo de papel e tinta e NÃO ESTÁ APRENDENDO NADA!

Se alguém souber me explicar para o que serve um trabalho deste, por favor, deixe um comentário explicando.

A maioria das pessoas tem dificuldade em escrever um trabalho com suas próprias palavras. Mas isto é fundamental. Você deve tomar para si o assunto do trabalho, ele tem que passar a ser sua propriedade intelectual. E você só vai conseguir fazer este processo se tiver o trabalho de escrever sobre o tema usando suas próprias palavras.

Escrevendo de maneira metafórica podemos imaginar assim: quando você apenas copia o que está escrito a informação vai dos seus olhos para a sua mão sem passar pelo seu cérebro, não há aprendizagem. No entanto, ao reescrever o texto, com suas palavras, você se obriga a pensar sobre o tema e, finalmente, consegue aprender algo.

Se você tem muita dificuldade em fazer isto com um tema é porque você não deve estar entendendo nada sobre o assunto. E este tipo de coisa deve estar acontecendo há muito tempo, horas e horas de trabalho gastos a toa.

Vale aqui um aviso: dependendo da natureza do trabalho, pode fazer-se necessário copiar um ou outro trecho da fonte de pesquisa. Isto é feito, normalmente, para reforçar a argumentação do trabalho, ou para comentar a citação. Neste caso tudo bem fazer uma cópia. Mas tudo que estiver escrito em torno desta citação tem que ser de sua autoria.

3- Busque em mais de uma fonte.

Ou melhor, busque em quantas fontes forem necessárias até encontrar uma que você realmente entenda o que você está lendo. E use esta para fazer o trabalho (mas não precisa se limitar a uma única fonte, podem ser várias, que se completam).

Por exemplo, no caso do conceito de fóton talvez você encontre uma fonte com os seguintes dizeres:

Os fótons são partículas sem massa que permitem que as cargas elétricas interajam entre si.

Esta frase diz praticamente o mesmo que a explicação anterior, mas com termos mais simples de serem compreendidos, mais acessíveis. Se mesmo assim você não entendeu o que é fóton, continue pesquisando, em algum momento você encontrará uma explicação acessível, afinal:

O TRABALHO SERVE PARA QUE VOCÊ APRENDA ALGO SOBRE O TEMA DA PESQUISA!


Este é o fim do primeiro post. Em breve publico o segundo (já está escrito, é só publicar)

Beijo nas crianças.

2 comentários:

Irene Duarte disse...

Oi, Clayton! Ao receber este post como recordação do face, fiz questão de relê-lo. Porque li um livro do Carlos Bagno (Pesquisa na escola) que faz a mesma crítica sobre como que os trabalhos de pesquisa são, ou não, abordados nas aulas e como são pedidos indiscriminadamente. É claro que nem tudo dá pra se concordar. Mas baseado nele montei uma apostila para os meus alunos do CAGECPM/Eja. É um guia de orientações para construírem um Trabalho de Autogestão. As professoras e eu o transformamos num curso. Em suma, o que você escreveu é uma realidade e a semelhança entre suas observações nos faz refletir sobre a necessidade de reavaliarmos nossa postura.
Bjs

Clayton Dantas disse...

Oi Irene.
Você poderia me passar estas orientações que vocẽ utiliza com seus alunos? (é aquela que esta em seu blog?).
E tem algum material sobre este curso que possa me passar, seria interessantes divulgar.

Bjs